Tania na arte de bordar couros de bumba-meu-boi
Perfeicao em bordado: a arte de bordar na palma da mao
Publicação: 23/03/2014 11:24 Atualização: 23/03/2014 11:30
Uma arte que resiste ao tempo, como a própria tradição maranhense. Com mais de 30 anos dedicados ao bordado, Tânia Lúcia Soares, popularmente conhecida como Tânia dos Bordados, é responsável pela confecção das indumentárias de brincantes da maior parte dos grupos de bumba meu boi de São Luís. Embora a referência do trabalho sejam as festividades juninas, a artista explica que através dessa linha temática é possível realizar os mais diversos motivos, definidos pelos próprios clientes, mas com a singularidade da moldura criada por ela própria.
“Trabalhei para ficar especialista no couro do boi. Não foi fácil. Eu fiz pesquisa para criar uma técnica e deixar como marca o bordado perfeito”, avalia Tânia dos Bordados, que iniciou o ofício indo às brincadeiras de bumba meu boi para apreciar os bordados das peças e tentar refaze-los à sua maneira, com o esmero que buscou ao longo da vida. Os materiais e até mesmo as mesas de trabalho em que se fixam os tecidos foram concebidas pela sua habilidade. E por mais que se procure, não se encontra uma única miçanga que fuja ao alinhamento ou ao relevo regular do bordado. Realmente perfeito!
Tamanho talento teve origem na admiração que a jovem Tânia Soares sentia pela riqueza das indumentárias nas festas de bumba meu boi. Bordando as peças costuradas pela própria irmã, ela recebeu o convite de ninguém menos que o artista Reynaldo Faray, ícone da dança e das artes dramáticas do Maranhão, para preparar o figurino de um espetáculo de dança com o tema tradicional da cultura do estado. “Não vou mentir. Não saiu legal, mas nos olhos dele [Faray] estava tudo lindo. Mas tudo ele achava lindo”, recorda a bordadeira, que continuou sendo chamada para participar das produções do artista.
Com o tempo, ela passou a frequentar as festas de boi da família do marido, Carlos Alberto, que atualmente coopera diretamente com o trabalho da bordadeira. Depois que as primeiras peças foram levadas às ruas, o trabalho minucioso de Tânia dos Bordados chamou a atenção dos donos de grupos mais exigentes. Companhia Barrica, Boi de Pindaré, Boi de Apolônio, Boi de Axixá requisitam os préstimos da artista há mais de 20 anos, sendo alguns de seus mais antigos clientes. No entanto, ela assegura produzir as roupas de quaisquer grupos que lhe façam encomendas, desde que com a antecedência necessária para a execução do trabalho, cujo ritmo é incessante. Tão logo se encerra o período junino, inicia-se a agenda de bordados das peças que ornarão os brincantes no ano seguinte.
Hoje, Tânia dos Bordados conta com uma equipe de colaboradores, dentre eles um desenhista profissional, os quais trabalham em horários regulares na oficina que funciona na própria casa da artista, no bairro Belira, para dar conta do grande volume de encomendas. A responsabilidade e a disciplina de cada bordador são acompanhadas com rigor pela mestra, que por sua vez não tem horário para cumprir o compromisso de entregar o trabalho primoroso, e não raro entra pela madrugada debruçada sobre miçangas e canutilhos. “Eu não tive um professor rígido comigo, a curiosidade foi muita, mas meu aluno tem que mostrar para mim que é melhor que eu”, afirma a bordadeira, para quem os jovens aprendizes se tornaram parte da família.
“Trabalhei para ficar especialista no couro do boi. Não foi fácil. Eu fiz pesquisa para criar uma técnica e deixar como marca o bordado perfeito”, avalia Tânia dos Bordados, que iniciou o ofício indo às brincadeiras de bumba meu boi para apreciar os bordados das peças e tentar refaze-los à sua maneira, com o esmero que buscou ao longo da vida. Os materiais e até mesmo as mesas de trabalho em que se fixam os tecidos foram concebidas pela sua habilidade. E por mais que se procure, não se encontra uma única miçanga que fuja ao alinhamento ou ao relevo regular do bordado. Realmente perfeito!
Tamanho talento teve origem na admiração que a jovem Tânia Soares sentia pela riqueza das indumentárias nas festas de bumba meu boi. Bordando as peças costuradas pela própria irmã, ela recebeu o convite de ninguém menos que o artista Reynaldo Faray, ícone da dança e das artes dramáticas do Maranhão, para preparar o figurino de um espetáculo de dança com o tema tradicional da cultura do estado. “Não vou mentir. Não saiu legal, mas nos olhos dele [Faray] estava tudo lindo. Mas tudo ele achava lindo”, recorda a bordadeira, que continuou sendo chamada para participar das produções do artista.
Com o tempo, ela passou a frequentar as festas de boi da família do marido, Carlos Alberto, que atualmente coopera diretamente com o trabalho da bordadeira. Depois que as primeiras peças foram levadas às ruas, o trabalho minucioso de Tânia dos Bordados chamou a atenção dos donos de grupos mais exigentes. Companhia Barrica, Boi de Pindaré, Boi de Apolônio, Boi de Axixá requisitam os préstimos da artista há mais de 20 anos, sendo alguns de seus mais antigos clientes. No entanto, ela assegura produzir as roupas de quaisquer grupos que lhe façam encomendas, desde que com a antecedência necessária para a execução do trabalho, cujo ritmo é incessante. Tão logo se encerra o período junino, inicia-se a agenda de bordados das peças que ornarão os brincantes no ano seguinte.
Hoje, Tânia dos Bordados conta com uma equipe de colaboradores, dentre eles um desenhista profissional, os quais trabalham em horários regulares na oficina que funciona na própria casa da artista, no bairro Belira, para dar conta do grande volume de encomendas. A responsabilidade e a disciplina de cada bordador são acompanhadas com rigor pela mestra, que por sua vez não tem horário para cumprir o compromisso de entregar o trabalho primoroso, e não raro entra pela madrugada debruçada sobre miçangas e canutilhos. “Eu não tive um professor rígido comigo, a curiosidade foi muita, mas meu aluno tem que mostrar para mim que é melhor que eu”, afirma a bordadeira, para quem os jovens aprendizes se tornaram parte da família.
Tânia dos Bordados relata com bom humor a reação dos clientes ao receberem as peças com os acabamentos perfeitos. Segundo ela, se uma roupa fica pronta meses antes do começo de junho, os brincantes fazem questão de levar a indumentária para casa, e diariamente abrir o armário para apreciar a aquisição. “Se chegarem dez parentes dele, todos os dez têm que olhar”, diz com um sorriso a bordadeira, que costuma ser procurada por pessoas que viram suas peças prontas e desejam uma igual. Mas Tânia dos Bordados tem de convence-las que o pedido é impossível, dado o tempo escasso e o trabalho acumulado com as demais encomendas. Alguns representantes de grupos já chegaram a aborrecer-se por não conseguirem incluir sua demanda no rol de encomendas da bordadeira. Mas retornaram dentre os primeiros da fila no próximo ano, com receio de mais uma vez não poderem ser atendidos.
Santos, aves na natureza e brincadeiras são motivos recorrentes, mas a Santa Ceia em couro de boi, feita para o Grupo União da Baixada, foi a produção que até hoje mais marcou Tânia dos Bordados. Ela disse ter recebido o pedido de uma peça semelhante do cantor baiano Gilberto Gil. E como não guarda as roupas consigo, a bordadeira foi surpreendida com o convite para visitar uma exposição do próprio trabalho no Rio de Janeiro, com peças recolhidas pela empresa Petrobrás junto aos donos. “Não é o dinheiro, são os votos que as pessoas dão que me fazem trabalhar melhor”, conclui Tânia dos Bordados, com a sabedoria dos mestres.
QUATRO PERGUNTAS PARA TÂNIA DOS BORDADOS
O que é preciso para se tornar um bom bordador?
“Primeiro, tem que gostar e fazer por amor. O financeiro vem e é necessário. Mas se não tiver amor, ele [o bordador] para, por que isso leva à loucura. Além disso, precisa ser responsável e ter paciência. Por isso tem que gostar”.
O que mais lhe agrada no seu trabalho?
“Eu acho que a alegria e satisfação do brincante, que fica feliz. Você não tem noção de como ele fica quando recebe a roupa. É mais um amigo que eu ganho. O dinheiro um dia acaba. Para mim, fazer alguém feliz é bem melhor”.
E qual a maior dificuldade?
“Já deixei para trás. Quando não se torna profissional, toda dificuldade aparece. Mas não tem dificuldade para um profissional, que trabalha e ganha seu dinheiro. A gente acaba encontrando coisas [que atrapalham], mas tem que aprender a viver com elas. Se falta alguma coisa, depois vem e volta para o lugar. Mas no início foi difícil... provar isso [o talento] foi muito difícil”.
Além dos bordados, as brincadeiras de bumba meu boi também lhe atraem?
“Não, não, só vou olhar (risos). Não dá para mim. Eu adoro o boi, mas o bordado tomou o espaço de tudo. Geralmente no domingo, que é a folga, se a gente sai de casa, fica preocupado em voltar logo porque segunda-feira tem que continuar”.
Um novo ofício
Santos, aves na natureza e brincadeiras são motivos recorrentes, mas a Santa Ceia em couro de boi, feita para o Grupo União da Baixada, foi a produção que até hoje mais marcou Tânia dos Bordados. Ela disse ter recebido o pedido de uma peça semelhante do cantor baiano Gilberto Gil. E como não guarda as roupas consigo, a bordadeira foi surpreendida com o convite para visitar uma exposição do próprio trabalho no Rio de Janeiro, com peças recolhidas pela empresa Petrobrás junto aos donos. “Não é o dinheiro, são os votos que as pessoas dão que me fazem trabalhar melhor”, conclui Tânia dos Bordados, com a sabedoria dos mestres.
QUATRO PERGUNTAS PARA TÂNIA DOS BORDADOS
O que é preciso para se tornar um bom bordador?
“Primeiro, tem que gostar e fazer por amor. O financeiro vem e é necessário. Mas se não tiver amor, ele [o bordador] para, por que isso leva à loucura. Além disso, precisa ser responsável e ter paciência. Por isso tem que gostar”.
O que mais lhe agrada no seu trabalho?
“Eu acho que a alegria e satisfação do brincante, que fica feliz. Você não tem noção de como ele fica quando recebe a roupa. É mais um amigo que eu ganho. O dinheiro um dia acaba. Para mim, fazer alguém feliz é bem melhor”.
E qual a maior dificuldade?
“Já deixei para trás. Quando não se torna profissional, toda dificuldade aparece. Mas não tem dificuldade para um profissional, que trabalha e ganha seu dinheiro. A gente acaba encontrando coisas [que atrapalham], mas tem que aprender a viver com elas. Se falta alguma coisa, depois vem e volta para o lugar. Mas no início foi difícil... provar isso [o talento] foi muito difícil”.
Além dos bordados, as brincadeiras de bumba meu boi também lhe atraem?
“Não, não, só vou olhar (risos). Não dá para mim. Eu adoro o boi, mas o bordado tomou o espaço de tudo. Geralmente no domingo, que é a folga, se a gente sai de casa, fica preocupado em voltar logo porque segunda-feira tem que continuar”.
Um novo ofício
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