Joaosinho Trinta no Cinema
Cinema reve a folia de Joaosinho Trinta
- Longa protagonizado por Matheus Nachtergaele recria o primeiro desfile do carnavalesco
RIO - Pintada de vermelho e branco e lotada de adereços, a quadra da escola de samba Vizinha Faladeira, no Santo Cristo, virou locação para um projeto cinematográfico de R$ 6,5 milhões, gestado ao longo de uma década, para levar a obra de Joãosinho Trinta (1933-2011) às telas. Em filmagem no Rio há uma semana e meia, com Matheus Nachtergaele no papel-título, "Trinta" reconstitui os bastidores do primeiro trabalho solo de Joãosinho como carnavalesco titular, em 1974, no Salgueiro. Em tempos pré-Sapucaí, ele venceu com o enredo "O rei de França na Ilha da Assombração". A direção do longa é de Paulo Machline, de "O natimorto" (2009).
— Conheci o Joãosinho em 2009. Ele era um homem de muita fé. Tinha fé na brasilidade, fé na revolução pela alegria — diz Nachtergaele.
Indicado ao Oscar em 2011 com o curta-metragem "Uma história de futebol", Machline não vai reconstituir o desfile do Salgueiro, então realizado na Avenida Presidente Antônio Carlos. Dele serão usadas apenas imagens de arquivo. O filme também não acompanha a ida de Joãosinho para a Beija-Flor, escola de Nilópolis onde fez seus carnavais mais famosos.
— O filme é sobre o João virando o Joãosinho Trinta. É sobre o carnaval que decretou o nascimento do mito — diz o cineasta paulistano de 44 anos. — E carnaval para ele durava seis meses. Era no barracão que tudo começava. Lá ele buscava uma justificativa para cada ala.
Em 2009, o diretor levou ao Festival do Rio o documentário (inédito em circuito) "A raça síntese de Joãosinho Trinta", codirigido por Giuliano Cedroni. Nele, Machline sintetizou as pesquisas que fez para "Trinta", cuja fotografia é de Lito Mendes da Rocha. Produzido pela Primo Filmes (de "O cheiro do ralo"), o longa será distribuído pela Fox. A estreia está prevista para o carnaval de 2013.
— "Trinta" é um filme sobre o que se passa na cabeça de um gênio desesperado. Aqui está o drama de um homem que chega do Maranhão para ser bailarino do Teatro Municipal e vê no carnaval o espaço para encontrar o aplauso que procurava — diz Machline, que, até o fim de abril, comanda 48 atores, 800 figurantes e 70 técnicos.
Com cerca de 300 metros quadrados, o barracão da Vizinha Faladeira — cujas paredes tinham tons de azul — foi reconfigurado pelo diretor de arte Daniel Flaksman, que recriou quatro carros alegóricos de 1974.
— Uma de nossas referências visuais foi o curta "Artesanato do samba", de Zózimo Bulbul e Vera de Figueiredo, que tem imagens do Joãosinho em 1974. Um dos membros da minha equipe, Odair Zani, que já trabalhou com carnaval, localizou fotos raras daquele desfile. Elas estavam com Eduardo Pinto, que desfilou pelo Salgueiro naquele ano. Eduardo era o jovem rei do enredo — explica Flaksman.
Menos competição, mais amor
Em "Trinta", Milhem Cortaz vive Tião, um dos diretores do barracão e rival de Joãosinho. Fabrício Boliveira será Calça Larga, um dos chefes do barracão e aliado do protagonista.
— Esse filme é um retrato de uma época em que o carnaval era menos competição e mais amor — diz Boliveira.
"Trinta" narra o momento que Joãosinho toma o lugar de seu mestre, o carnavalesco Fernando Pamplona, que o trouxe do Teatro Municipal. Pamplona é vivido por Paulo Tiefenthaler, do programa "Larica total".
— Eu fiz cobertura de carnavais como jornalista e cheguei a dirigir um filme sobre esse universo: o curta "Mestre Jorjão" — lembra Tiefenthaler. — É um universo familiar.
Maquiado por Uirandê Holanda, Nachtergaele diz que chegou a estudar balé para reproduzir com fidelidade o gestual de Joãosinho Trinta.
— A imagem célebre dele na Sapucaí, acenando para a multidão, é um resquício da disciplina de bailarino que, apesar da dor física, sorri ao fim de um espetáculo. O Joãosinho que interpreto é o homem devotado a uma obra. Um agitador cultural.
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