Desvios de verbas do SUS atingem populaçoes de Rosario e Miranda do Norte
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Em Rosário, uma auditoria federal descobriu, há 2 anos, um desvio de R$ 6,9 milhões em verbas da Saúde; em Miranda do Norte, a auditoria mostrou que, em um ano, o hospital atendeu, para tratamento de glaucoma, 27,9 mil pessoas – número superior a toda a população da cidade
NATÁLIA CANCIAN
ENVIADA ESPECIAL DA FOLHA AO MARANHÃO
ENVIADA ESPECIAL DA FOLHA AO MARANHÃO
Há dois anos, uma auditoria federal descobriu um desvio de R$ 6,9 milhões em verbas do SUS (Sistema Único de Saúde) em Rosário (a 75 km de São Luís).
Entre as irregularidades: incompatibilidade entre os serviços prestados e os recursos repassados pelo Ministério da Saúde, despesas sem comprovação e unidades de saúde que deveriam ter recebido a verba em condições precárias e sem equipamentos.
Na última quarta, no único hospital público da cidade, uma fila com cerca de 20 mulheres grávidas esperava num corredor lotado. A maioria havia chegado às 6h da manhã, em jejum. Cinco horas depois, porém, não havia previsão de atendimento.
“E ainda por cima estou sentindo dor”, disse a pescadora Maria Viana, 30, sete meses de gravidez.
O hospital – também chamado de Unidade Mista de Rosário – chegou a ser interditado judicialmente por problemas na estrutura, segundo o Ministério Público. O cenário é de abandono, com piso sujo, quartos e laboratórios completamente vazios.
O centro cirúrgico, que recebia pacientes de outras cidades, também está fechado.
A técnica de enfermagem Ivanilse Martins, 34 anos, diz ter ficado surpresa com a presença da reportagem. “Aqui, qualquer coisa mais grave, tem que ir até São Luís.”
De acordo com a secretária da Saúde de Rosário, Mauricéa Lopes, a prefeitura deve aplicar ainda neste ano cerca de R$ 600 mil, valor obtido por meio de uma emenda parlamentar, em reforma das unidades de saúde e compras de equipamentos. A unidade do povoado de Itaipu é uma das que devem passar por reformas até novembro, afirma.
O município – que tem 39,6 mil habitantes – também deve receber cinco médicos cubanos por meio do programa Mais Médicos para ajudar na demanda de atendimento, segundo a secretária da Saúde.
AGENDA APERTADA – Para conseguir uma consulta com o oftalmologista no hospital municipal Pedro Vera Cruz Bezerra, em Miranda do Norte (a 139 quilômetros de São Luís), é preciso encontrar espaço na agenda do médico – que só atende só atende duas vezes ao mês.
Essa realidade contrasta com os números encontrados por auditoria local em 2011.
O levantamento mostrou que, em um ano, o hospital chegou a atender, para tratamento de glaucoma, 27,9 mil pessoas – número superior a toda a população da cidade (27,4 mil pessoas). É como se todas as crianças, adultos e idosos do local precisassem de atendimento para o mesmo problema.
A Folha tentou falar com a secretária da Saúde e com o prefeito da cidade, José Lourenço Bomfim Júnior, o “Júnior Lourenço” (PTB), mas, segundo funcionários, eles moram em São Luís, e só aparecem na cidade duas vezes por semana. (NC)
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