ME DÁ UM DINHEIRO AÍ
ALTERNATIVO
Hoje é dia de...Joaquim Itapary
jitapary@uol.com.br
24/01/2013 00h00
Consta que William Jennings Bryan, secretário de estado do presidente Woodrow Wilson, dos Estados Unidos, teria sido o primeiro administrador público a demitir-se de um cargo por encontrar-se diante do celebre dilema, formulado pelos economistas, sobre prioridades para uso de recursos escassos: Canhões ou manteiga? Evidente, em sentido amplo, qualquer opção significará maior destinação de verbas a uma atividade que à outra.
No caso do secretário Bryan, a escolha era entre gastar mais com a defesa nacional (canhões) ou investir na fabricação e aquisição de “ativos domésticos”, exemplificados pela manteiga. Desse terrível dilema se saíram muito bem recém- empossados prefeitos de importantes cidades brasileiras ao decidirem entre o gasto supérfluo de dinheiro público na gandaia carnavalesca e o investimento em serviços sociais essenciais, de incontrastável relevância. Prefeitos de Florianópolis, Porto Velho, São Luís, Ilhéus, Campinas, Petrópolis, Diamantina, Araraquara, Taubaté e Guaratinguetá, numa demonstração de insólita coragem política e exemplar senso de responsabilidade administrativa, já decidiram: Este ano, não há dinheiro para a farra. Carnaval é bom, mas quem quiser que se esbalde às suas próprias custas. Como acontecia até recentemente em São Luís e o carnaval era uma verdadeira expressão da Cultura popular.
Aqui, saúde pública, educação, transporte e saneamento são prioridades absolutas. Isso não significa negar a importância do estímulo às atividades de Cultura e Lazer das quais participem, espontaneamente, amplos contingentes da população. Tanto que, na maioria dessas cidades, entre elas três Capitais, a atitude adotada pelos prefeitos tem recebido apoio e aplauso até mesmo de grupos carnavalescos ordinariamente beneficiados com verbas públicas. Em Petrópolis, cidade arrasada por dois consecutivos desastres climáticos, a atitude do prefeito municipal foi aplaudida em matéria divulgada pelas entidades representativas dos foliões, que prometeram, mesmo sem a grana do erário, botar os blocos nas ruas.
Tragamos, então, para nós o exemplo da aprazível cidade serrana do Rio de Janeiro e, sem o tradicional maniqueísmo da politiquice local, aliás, muito démodé, mas cumprindo nosso dever de cidadania, façamos o elogio da prudente, sensata e corajosa decisão do Prefeito de São Luís. Afinal, nenhuma outra cidade brasileira pode estar em pior situação administrativa e financeira do que São Luís, onde escolas, hospitais e centros de saúde simplesmente não funcionam ou se acham em petição de miséria, a cidade irresponsavelmente largada ao deus-dará, coberta de imundície de toda natureza, sem condições até de pagar os salários atrasados de seus mal remunerados funcionários.
Com uma única e evidente diferença: Petrópolis, jóia do período imperial do Brasil, está arrasada por dois anos de desastres climáticos; São Luís, patrimônio cultural da humanidade, encontra-se destroçada por mais de três décadas de inclementes e formidáveis desastres administrativos. Que o belo exemplo de coragem e sensatez do jovem prefeito da Capital se difunda e espalhe pelo Maranhão inteiro, é o que devemos todos pedir e esperar.
Especialmente, espero igual atitude do prefeito de minha abandonada São Bento dos Perís, município cuja prefeitura está literalmente falida e onde o povo pobre sofre o castigo de uma estiagem que atira na mais absoluta miséria os que até ontem eram apenas pobres, ainda que com a Graça de Deus. Porque, em verdade, vivemos um momento em que configura gravíssima e absurda crueldade com os pobres a gratuita distribuição de dinheiros do povo a quem quer que compre uma fantasia e saia pelas ruas, mascarado ou com a cara lavada, a pedir “me dá um dinheiro aí”. Pois, enquanto as prefeituras distribuem essa espécie de bolsa-gandaia com dinheiro do povo, muitos choram de dor, comem o pão que o diabo amassou, ou morrem de fome.
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