Cineasta português Manoel de Oliveira morre aos 106 anos

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Cineasta português Manoel de Oliveira morre aos 106 anos


Morreu nesta quinta-feira (2), aos 106 anos, o português Manoel de Oliveira, um dos principais diretores do cinema europeu, autor de cerca de 60 filmes, incluindo os premiados "Os Canibais" (1988), "A Divina Comédia" (1991), "Vale Abraão" (1993) e "A Carta" (1999).

Questionado em 2005 sobre que conselho daria a jovens realizadores, o diretor disse: "Não se ensina a vocação a ninguém. Só a técnica é que se pode aprender".

Mais longevo cineasta do mundo, começou a filmar ainda na época dos filmes mudos e dirigiu obras até 2014, quando realizou os curtas "O Velho do Restelo" e "Chafariz das Virtudes", inspirados em textos de Camões, Teixeira de Pascoaes e Cervantes.


Antes disso, o filme "O Gebo e a Sombra" —uma comédia dramática, adaptação da peça de 1923 do português Raul Brandão, com os atores Michael Londsdale, Claudia Cardinale e Jeanne Moreau— foi apresentado no verão de 2012 no Festival de Veneza. Naquele mesmo ano, ele rodou o curta "O Conquistador Conquistado", sobre Guimarães, cidade do norte de Portugal nomeada capital europeia da Cultura.
Em sua longa carreira, trabalhou com atores como John Malkovich, Catherine Deneuve, Marcello Mastroianni e Michel Picolli, um de seus principais parceiros.
TRAJETÓRIA
Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu em 11 de dezembro de 1908, no Porto, filho de uma família da alta burguesia industrial. Considerado um mau aluno, dedicou-se ao atletismo, mas só se interessou pelas artes aos 20 anos, quando entra na escola de atores fundada em Portugal pelo cineasta italiano Rino Lupo.
Neste período, Oliveira criou seu primeiro filme, o curta-metragem "Douro, Faina Fluvial", de 1931. A estreia em um longa de ficção só veio em 1942, com "Aniki Bobó", sobre a infância pobre na região do rio Douro.
Desiludido com o fracasso da primeira ficção, Oliveira abandonou outros projetos e dedicou-se aos negócios da família: vinho e indústria têxtil. Voltaria aos longas apenas duas décadas depois, com "Ato de Primavera" (1963), recriação da Paixão de Cristo.
Conhecido por seu estilo rigoroso e reflexivo, pelas cenas longas, com câmeras fixas, ausência de música e de cenas de sexo e violência, ao longo dos anos, Oliveira encantou críticos de vários países, mas espantou, muitas vezes, o público português.
Até os 70 anos de idade, o cineasta português Manoel de Oliveira era apenas uma nota de rodapé nos livros de cinema. Representante de um país sem tradição cinematográfica, era autor de apenas quatro longas-metragens, alguns curtas e vários projetos não realizados.
A consagração internacional veio "Amor de Perdição", em 1978. A partir daí, financiado pelo governo português, passou a filmar com maior constância. Durante a década de 90, lançou um filme por ano, atraindo prêmios e homenagens de festivais de cinema como Cannes, Veneza, Berlim e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Para qualquer outro artista, a idade avançada representaria o fim. Para Manoel, tratava-se apenas de um recomeço (mais um, numa carreira repleta deles).
Selecionado sete vezes para o Festival de Cannes, Manoel de Oliveira recebeu uma Palma de Ouro especial pelo conjunto da obra há sete anos. Foi comparado pelo então diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, a Fernando Pessoa, "outro gênio de Portugal."
Mas o diretor não quis saber de descanso. Voltou a Cannes, dois anos depois, para apresentar "O Estranho Caso de Angélica" na mostra oficial "Um Certo Olhar". O longa, uma coprodução brasileira sobre um fotógrafo contratado para tirar o retrato de uma moça morta, também foi escolhido para abrir a 34ª Mostra de São Paulo, no mesmo ano.
Manoel de Oliveira deixa a mulher, Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais, quatro filhos e cinco netos, um deles o ator Ricardo Trêpa. 

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